Meu voto para o último colocado

No post anterior falei do primeiro lugar do meu Top 10 do que há de melhor na Argentina. Agora vou direto ao extremo oposto: escolhi o que há de pior por aqui – na minha humilde, e exigente, opinião. Acho difícil alguém adivinhar o que é desta vez, porque é uma experiência pela qual nenhum estrangeiro tem que passar. Mas morando aqui, acabei presenciando a “situação”. Meu voto de piedade, que está mais para tiro de misericórdia, vai para o sistema de votação da Argentina. 

E como 2011 é ano eleitoral aqui, acho que não tem hora melhor pra falar desse tema. A primeira vez que acompanhei meu namorado & família ao colégio eleitoral para votar tive um choque cultural: filas separadas para mulheres e filas só para homens. Acredite se puder! Portanto, eu era a única representante do sexo feminino naquela ala. Me senti numa cena de um passado muito remoto e fiquei tentada a começar uma fogueira para queimar sutiã ali mesmo.

Mas esta não foi a minha maior surpresa… Percebi que quando o cidadão se apresentava aos membros da mesa e mostrava seu documento, ganhava um envelope. Achei intrigante! O cidadão, com envelope em mãos, entrava numa sala de aula sozinho. (Esta parte me explicaram, porque, obviamente, não pude entrar:) Sobre as carteiras escolares ficam pilhas de diferentes cédulas eleitorais, que eles chamam de “boletas”. O eleitor pega as cédulas em que aparecem os nomes dos candidatos nos quais quer votar e coloca no tal envelope. E esse envelope vai finalmente para a urna (na foto ao lado dá pra ver os envelopes).

Uma das grandes questões é que como a pessoa entra sozinha na sala e fecha a porta, quem quiser enfia na bolsa ou bolso todos os papéis que tiver vontade e deixa o candidato rival sem “boletas”. Aqueles que entram depois podem não encontrar a “boleta” do candidato desejado, mas também podem não querer sair e reclamar para a mesa a falta dela, afinal, a ideia é que o voto seja secreto, certo? Também acontecem casos de troca de “boletas” por cédulas falsas (exemplo na foto abaixo), fazendo com que, na hora da contagem, esses votos sejam anulados. Um sistema no mínimo confuso, pouco confiável e até contrangedor. 

A imagem que eu tinha – e continuo tendo – dos argentinos, assim como os brasileiros em geral (tirando aqueles que são preconceituosos demais para pensar alguma coisa), é de um povo superpolitizado, engajado, leitor assíduo de jornal e tal. E por pensar dessa forma é que fiquei extremamente decepcionada com o “grande ato cívico da democracia” dos nossos hermanos. 

Não conheço muito a respeito do processo eleitoral em outros países, mas nas minhas pesquisas sobre o caso, descobri que esse mesmo sistema parece ter sido usado no Brasil até 1955 (mais de meio século atrás!). Ok, não vamos comparar com o Brasil atual que está supermodernizado e digitalizado nessa área, mais do que qualquer outro lugar do mundo. Mas me parece que o buraco é muito mais embaixo no caso das votações na Argentina… Depois de sofrer tanto com diferentes ditaduras duríssimas, a experiência democrática do voto na Argentina ainda é muito rudimentar e branda, pra não dizer frouxa. Por isso  merece o posto de pior dos piores!

2 thoughts on “Meu voto para o último colocado

  1. Gildete Valério 14/06/2011 / 17:59

    Muito louvável essa sua atitude de colocar essa situação política tão “arcaica” (me parece). Precisa que todo mundo saiba pra ver se muda alguma coisa, cruzes!!!!

    • renatavmesquita 14/06/2011 / 18:47

      O sistema de votação é arcaico e a questão dos setores separados por sexo é retrógrado. Eu acho que seria um ótimo estímulo para abrir a cabeça das pessoas extinguir esse péssimo costume do passado!

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