Cada macaco na sua árvore genealógica

Renata Valério de Mesquita é um nome relativamente fácil de entender e escrever no Brasil e na Argentina, mas rende muuuitas explicações. Não exatamente pela pronúncia que só muda substancialmente no “r” de Renata, que em espanhol precisa vibrar ao ponto de dar coceira no céu da boca.

A questão é mais sociocultural: as pessoas pensam que eu sou casada e quando eu digo que não (oficialmente, pelo menos) me olham com olhos de “que pessoa chique”. No começo eu achava esquisito e de tanto me explicar acabei entendendo porque tanta confusão!

Acho que tudo começa no “de”. Antes da famosa Evita, as mulheres aqui não tinham um documento próprio, eram um mero adendo colado no documento do pai e que depois passava a ser grudado no documento do marido. Quando se casava, portanto, a mulher colocava no fim do nome de solteira o “de” (de posse mesmo) seguido do sobrenome do marido. Os filhos, como já dá pra imaginar, recebiam só o sobrenome do pai.

Eu, por exemplo, seria de um tal Sr. Mesquita. Mas, como não sou casada, aos olhos dos Argentinos, com a estrutura de sobrenome que tenho, passo automaticamente à categoria de “doble apellido” (dois sobrenomes) reservada aos mais ricos e importantes que faziam questão de manter os sobrenomes das duas famílias pela tradição e pelo peso que tinham na sociedade.

Se a confusão acabasse aí estava bom. Mas tem outro problema quase matemático: a ordem dos fatores no caso dos nomes altera completamente o resultado. Por que o “Valério” vem antes do “de Mesquita”. Como sempre, portugueses e espanhóis foram do contra e complicaram nossas vidas para sempre (como já comentei no post “O Tratado de Tordesilhas do idioma”). Dizem que como muitos portugueses passavam meses ou até anos no mar, quando as crianças nasciam as “raparigas” registravam os bebês com o seu sobrenome e depois, quando o pai chegava de viagem, ele agregava a sua parte. Já a Espanha não seguia essa lógica e sim a de que o mais importante vem antes ou simplesmente vem só e, na sociedade patriarcal, naturalmente o sobrenome do pai impera.

Nos parâmetros daqui eu teria que chamar “Renata de Mesquita Valério”. Já perdi a conta de quantas vezes não fui encontrada nos cadastros de atendimento porque geralmente cito o “Mesquita” e estou registrada nos lugares pelo sobrenome “Valério”. E a bola de neve triplica de tamanho quando as brasileiras têm filhos com argentinos. Tem tabelião que não aceita as diferenças culturais e pega o primeiro sobrenome do pai e o primeiro da mãe (se o casal quer colocar os dois) e não há quem convença o indivíduo de que ele está causando um rebu na árvore genealógica da pobre criança.

2 thoughts on “Cada macaco na sua árvore genealógica

  1. Caito Marcondes 30/04/2010 / 18:57

    oi renata, que delicia esse blog “seus” como dizem os mineiros! e eu que estava a procurar o nassif, quando me lembrei que nassif era sua mãe…

    eu também ( que já fui admoestado na familia por ter escolhido o marcondes como nome de “guerra”, uma homenagem a minha tia geny marcondes, super musicista) acabei deixando o nassif para os documentos oficiais.

    em julho estarei por aí para fazer concertos do dia 7 ao 12, com concertos 10 e 11. espero que possamos nos ver.

    um beijão e parabéns pelo blog!
    caito

    • renatavmesquita 01/05/2010 / 00:22

      Quando é por opção acho que é válido, Caito! No seu caso mais ainda, porque foi uma homenagem que você quis fazer à tia musicista… mas quando é o cara do cartório que acha que pode decidir o nome dos outros já é sacanagem, né?(No meu caso, o Nassif não passou pra mim porque era da mãe do meu pai e eu recebi um sobrenome da minha mãe e outro do meu pai, na sequência brasileira… hehe) Beijão e nos vemos em breve então!

Deixe um comentário