Já prometi escrever mais sobre expressões idiomáticas usadas aqui, mas antes vou falar de duas que eu mesma inventei e estão muito relacionadas entre si e com as diferenças culturais que são o motivo deste blog. “Fazer um tango” e “Fazer um samba”.
Eu uso para definir a atitude das pessoas diante das situações da vida. Mais ou menos como o copo meio cheio ou meio vazio. E no caso de Brasil e Argentina isso fica explícito na música. A tendência dos “hermanos” de dramatizar as coisas está nas letras e na forma de cantar do tango, e também no som prolongado e retumbante do acordeão que estampa sofrimento e desilusão.
Não me interpretem mal! Eu adoro tango, até mesmo na sua versão eletrônica (a única música eletrônica que eu gosto). Fico fascinada com a sincronia dos bailarinos, e grudo na cadeira, tensa, pensando que em algum momento eles vão terminar dando nó e quebrando as pernas um do outro.
Já o samba traz uma cadência que relaxa, faz o corpo de quem escuta mexer, se soltar. E mesmo que a clássica música de Vinícius diga que “”pra fazer um samba com beleza / É preciso um bocado de tristeza”, afirma que “É melhor ser alegre que ser triste / Alegria é a melhor coisa que existe”, e fecha a letra com o tom otimista do brasileiro “Porque o samba é a tristeza que balança / E a tristeza tem sempre uma esperança / De um dia não ser mais triste não…” No dia a dia, a vontade do brasileiro de rir e tentar tirar dos piores momentos alguma coisa boa está presente nas piadinhas e na irreverência para contar mesmo os acontecimentos mais trágico.
O argentino, por sua vez, está sempre inconformado e falando de como antes tudo era melhor, que o seu país não tem mesmo jeito. Parece que eles não podem nem reconhecer que saíram do buraco que saíram de 2001. Acho que o tradicionalismo não permite que eles se reinventem. Como os passos do tango que se repetem desde sempre, imutáveis. Concordo com Charly García (o Lulu Santos deles) quando alerta que já é hora de deixar a deprê de lado. “Yo quiero ver muchos más delirantes por ahí / bailando en una calle cualquiera en Buenos Aires / Se ve que ya no hay tiempo de más /La alegría no es sólo brasilera.”
Oi, Rê
nada como uma brasileira para conseguir fazer a comparação. Que maneira sutil e certeira de enxergar a cultura de um povo!
O texto está lindo!
Bjins
É preciso ser alegre para no meio do choro do tango encontrar motivos para ser feliz. Você tem bastante gás e alegria para isso. Parabéns!!
Ahhh… Mas tem hora que o tango vem na sua direção, naquela marcha marcada, com os braços esticados como espada e é difícil driblar, mesmo sambando muito… Então para desempatar, o melhor é cantar uma bossa nova meio sambinha: “é melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração” (grande Vinicius!).
Beijo